Wirth, em seu “le tarot des imagier du moyen-age”, fala muito em “imaginar com justeza”. Enquanto escrevo este texto que será publicado na segunda, penso nesta frase logo após ter sorteado o #dezdecopas como conselho do tarô. Penso nesta frase e a reviro dentro de mim. O que é “imaginar”? Bem, o próprio ato de pensar sobre a natureza da imaginação já é um ato de imaginação, então imagino que eu não precise falar tanto a respeito deste verbete aqui. Mas, mais do que isso, eu pergunto, a mim e a você: por que imaginar? Estamos em tempos de castração – com a supervalorização do racional, do pensamento, daquilo que possui respostas lógicas e lineares. Queremos colocar tudo em uma narrativa que “faça sentido”. É a história com começo, meio e fim; tudo vira a Jornada do Herói, blá, blá, blá. E ok, as coisas “fazem sentido”, mas o imaginar entra no mundo justamente para nos ensinar a significar. Criar significado, experiência que, por mais que passe pela porta do racional, encontra a sua morada no âmbito da imaginação. É através da imaginação que moram os afetos – e é justamente por isso que nos apegamos às estações, aos objetos, aos oráculos e às pessoas – porque elas ganham um papel dentro de nós, uma sensação. Através da imaginação, é possível que você entenda exatamente o que eu quero dizer quando digo que sinto “borboletas no estômago” ou um “frio na espinha”. A imaginação nos liga neste mundo complicado e linguisticamente complexo, em que as metáforas ganham um peso tão ou mais concreto quanto as construções perfeitas formadas pela razão.
Que presente essa reflexão! <3