Esses dias, estava relendo uns trechos de Poeta Chileno, de Alejandro Zambra, possivelmente o melhor livro que li em 2022, e reencontrei esse trecho, marcado por mim, com uma única palavra: Julgamento.
Talvez exista uma palavra para designar o contrário do luto o que se sente não depois que alguém morre, e sim quando esse alguém reaparece; o que se sente quando, de súbito, recuperamos alguém que havia permanecido ausente até mesmo de nossos sonhos. Palavras como renascimento ou ressurreição são tão inadequadas, porque o que Gonzalo sente é mais complexo, mais específico: o contrário do luto coexiste com o luto, é uma espécie de alegria elegíaca. Além do mais, é ele quem acaba de reaparecer, embora tenda a pensar o contrário, como se Vicente fosse o recém-chegado. Vicente sempre esteve ali: quem foi embora, quem o abandonou, foi Gonzalo; e é Gonzalo quem agora regressa. (Poeta Chileno, Alejandro Zambra).
Acho que esse é um dos significados mais interessantes dessa carta e que merece mais a nossa atenção: o que significa quando algo reaparece em nossa vida? O Julgamento é comumente associado a retornos. Em uma aula particular, enquanto eu explicava que ele costuma indicar o famoso “oi sumida”, o ex-namorado da minha aluna mandou uma mensagem para ela.
A ideia do ressurgimento, porém, também é o lembrete da ausência anterior ao reaparecimento. Quando voltamos a algo, a algum hábito, quando um sentimento retorna, somos obrigados a enfrentar a ausência dele e o efeito que ela, e que o próprio reaparecer, causam em nós. Isso, para mim, fala muito do Julgamento. Mais do que pensar em simples cobrança, é sim um chamado que nos lembra de que, quando alguém some e/ou reaparece, algo muda. Ninguém é invisível, todas as nossas ações possuem um efeito sobre os nossos arredores.
Na Teoria Binária, o Julgamento é uma carta que faz oposição à Imperatriz: o terceiro arcano não aceita milagres, a ideia de algo que simplesmente surge. Maria não deve ter aceitado muito bem a ideia de que ficaria grávida sendo virgem, se fôsssemos realistas. É como se a criação de uma nova vida não fosse mais o seu papel — e é a Imperatriz, afinal, quem cria a vida. O Julgamento, como o surgimento espontâneo de algo que exige a nossa atenção e uma nova postura, vai contra os princípios dela.
Gosto muito da definição de Wirth sobre o Julgamento. Para ele, o Sol, enquanto verdade, é a apenas a luz que nos toca, a beleza em sua forma pura, mas é somente no Julgamento que os efeitos solares intervêm em nossa vida. É apenas no juízo final que as almas são, de fato, separadas e julgadas por suas ações. Não apenas vemos o caminho de nosso destino, como somos direcionados para ele. Diante do Julgamento, não há cegueira — o máximo que podemos fazer (e, muitas vezes, fazemos) é rejeitar o caminho que está diante de nós. É, de fato, o ressurgimento da nossa percepção a respeito de quem somos. Nossa essência, ausente, adormecida, se faz ouvir novamente. A cobrança, muitas vezes, surge na forma de arrependimento ou nostalgia, quando olhamos tudo aquilo que vivemos de forma infiel a quem somos. O sopro da trombeta do anjo do vigésimo arcano é a exaltação daquilo que sempre precisou estar conosco, e que agora faz o retorno triunfal.
Tem sido difícil manter uma rotina de produção de conteúdo. Muito difícil, na realidade. Entre dar aulas a semana inteira, gravar os vários perfis do Destino, atender meus clientes, fazer uma pesquisa em literatura medieval, cuidar dos gatos e da casa, me alimentar, tentar dormir direito e, além disso tudo, tentar manter uma vida social relativamente existente, a cabeça fica vazia, para dizer o mínimo.
Venho buscando novas relações com a internet. Pra falar a verdade, acho que a internet tem me causado mais esgotamento do que qualquer coisa. Algorítmos, engajamento, a pressão de precisar estar sempre divulgando meus serviços para que as pessoas não esqueçam de estudar comigo (:D), tudo isso me faz sentir uma necessidade de repensar a comunicação com as pessoas.
Gostaria de escrever mais aqui, mas é aquela coisa, sem promessas.
Não esqueçam de apoiar seus amigos autônomos, de divulgar nosso trabalho, recomendar nossas redes sociais e cursos, porque é a sua indicação que nos ajuda a conseguir o pão de cada dia.
Aliás, falando em pão de cada dia, dia 14 de outubro farei um workshop sobre a leitura profissional de tarô. Este é um workshop para quem está começando a profissionalizar a carreira e quer conversar sobre questões mais práticas, como a gestão do tempo e de agenda, como lidar com determinados tipos de cliente, de perguntas, etc. Será um bate-papo divertido.
Informações práticas:
Data e hora: 14 de outubro, 18h
Duração: entre 1h a 3h.
Vai ficar gravado? Não.
Valor: 80
Inscrições: fazer o pix para o email juliosoares14@gmail.com e enviar o comprovante para o email cursos.fortunaarcana@gmail.com
Até mais!
Julio, entendo totalmente o que você diz sobre a dificuldade em produzir conteúdo para as redes sociais hoje. Postar menos pode até refletir em quedas de visualização, mas acredito que quem posta conteúdos relevantes de forma aprofundada deixa marcas importantes. Num oceano de besteiras, dancinhas e vídeos acelerados de tiktok, te ler é bom demais!