Um baralho raro e polêmico
Conheça o tarocchino Montieri, um dos baralhos mais raros do mundo.
Após a difusão e consolidação das cartas de jogar pela Europa nos séculos XIV e XV, outros baralhos começaram a surgir, com propósitos além dos jogos de apostas. Nascem, assim, os baralhos artísticos e o nosso foco hoje: baralhos educativos. Andrea Vitali é o principal divulgador da ideia do tarô como exemplo do conceito ludendo intelligo [aprendo jogando], que é aplicado perfeitamente nos baralhos educativos. Ainda que eu não concorde plenamente com a forma como Vitali emprega o conceito, é inegável a possibilidade de uso de jogos como ferramentas educacionais. Neste texto, quero mostrar alguns dos baralhos educativos mais interessantes que já estudei, com destaque para um específico
As principais produções de baralhos educativos ocorrem a partir do século XVII, e as cartas eram usadas para ensinar diversos assuntos, como história, religião, astrologia e geografia. Dentro deste contexto, é interessante observar o curioso caso do baralho de don Luigi Montieri.
Tarocchino Montieri 1725:
Tarocchino quer dizer literalmente “tarozinho”, e é uma tipologia de baralho com raízes em Bologna, onde retirou-se as cartas numeradas de 2 a 5 dos chamados arcanos menores, criando, assim, um baralho de 62 cartas.
O tarocchino Montieri é um dos baralhos mais raros do mundo, com apenas uma cópia sobrevivente, hoje no Museu da Cidade de Bologna, na Itália. O seu nome “oficial” é L’Utile col Diletto, ossia geografia intrecciata nel giuoco de Tarocchi con le insegne degli Illustrissimi ed Eccelsi Signori Gonfalonieri ed Anziani di Bologna dal 1670 al 1725 [Útil com Prazer, ou seja, geografia entrelaçada no jogo de tarô, com os brasões dos ilustríssimos e excepcionais senhores Gonfaloneiros[1] e Anciões de Bologna de 1670 a 1725]. A proposta do autor, o padre(!) Luigi Montieri, era ensinar geografia com as cartas de tarô, contendo informações sobre os continentes, sobre regiões da Europa e divisões políticas.
Em carta a Giovan Paolo Pepoli, Montieri dizia propor um jogo que não servisse apenas como diversão, mas que também fosse “instruir os jogadores sobre alguma arte ou ciência ao mesmo tempo”.
A proibição e destruição do Tarocchino Montieri
Não muito tempo após a publicação do tarocchino, no dia 10 de setembro de 1725, o cardeal Tommaso Ruffo ordenou que a fabricação deste tarocchino fosse suspensa, todas as cópias —cerca de 500— dele confiscadas e queimadas, e foram presos os desenhistas, livreiros e gravuristas que participaram da fabricação do baralho de Montieri. O próprio Montieri não foi preso por intervenção de Giacomo Boncompagni, arcebispo de Bolonha, mas não conseguiu escapar à pena de seis anos de exílio. Os moldes usados para fazer as gravuras das cartas também foram destruídos.
O cardeal Ruffo, em edital publicado no dia 12 de setembro do mesmo ano, confirma a sua decisão de proibir a circulação do baralho e queimar todos os exemplares existentes:
“[o tarocchino montieri] possui não apenas uma, mas sim muitas irregularidades vãs, com ideias impróprias, dignas do castigo mais exemplar, como de queimá-las e proibir o seu comércio e uso”.
Informações da carta 21 (o Louco), as informações entre parênteses foram inseridas por mim:
GOVERNOS DA EUROPA
Monárquico: França / Espanha
Despótico: Turquia / Moscóvia (atual Rússia)
Aristocrático: República de Veneza
Democrático: Suíços / Províncias Unidas (atuais Países Baixos)
Misto de Monarquia, Aristocracia e Democracia: Alemanha em parte / Inglaterra / Polônia
Misto: Bologna
Durante a publicação deste baralho, Bologna fazia parte do domínio da Igreja Católica, ou seja, do Estado Pontífice. Colocar o seu governo como “misto” soou como uma rebeldia diante da autoridade da Igreja para cardeal Ruffo.
Ocorre que Bologna, desde 1447, possuía um senado próprio, e gozava de certa autonomia em comparação com outros estados de domínio católico. Bologna e a Igreja tinham certos conflitos há pelos menos três séculos em relação ao governo da cidade. Bologna era governada em conjunto tanto por um cardeal representante do poder papal quanto pelo seu “Senado”, composto de 50 membros das famílias mais importantes da cidade.
Dessa forma, não parece incorreto dizer que seu governo fosse misto. No entanto, tal informação, mesmo que provocativa, despertou a fúria imediata do cardeal, e a questão precisou ser levada para Roma, onde uma discussão a respeito do destino das cartas e do próprio Luigi Montieri foi resolvida sem consequências maiores na já frágil diplomacia entre as partes.
A animosidade do cardeal em relação aos jogos já era conhecida: ele foi nomeado pelo papa Inocêncio XIII como deputatus legalus de Bologna em 1721, e uma das suas primeiras ações legais foi a proibição de uma série de jogos de azar, com pena de até 5 anos de prisão.
Um outro detalhe interessante é que o tarocchino Montieri é o primeiro do padrão bolonhês a adotar os quatro mouros (chamados de mori ou moretti) no lugar dos quatro “papas” (Papisa, Imperatriz, Imperador e Papa), e é a partir dele que essa prática torna-se comum na produção dos baralhos regionais, mas isso é outra história.
[1] De gonfalone, estandarte. Os Gonfalonieri (ou seja, porta-bandeiras) eram uma antiga magistratura italiana, com diversos cargos importantes.
Marcello Fini. 1725, quando a Bologna arrivarono i Mori.
Riccardo Minetti. Tarocchino Montieri.
Ross Caldwell. Prevalenza della regola pari-papi nei Tarocchi bolognesi. In: Andrea Vitali (org). Bologna e i tarocchi.
Giordano Berti. Storia dei tarocchi.
WOPC. Utile col diletto.
Dizionario Biografico degli Italiani. Luigi Montieri.
Intensivão de tarô: 9 e 10 de agosto
Em apenas dois dias, você vai receber ferramentas valiosas para tornar sua leitura de tarô mais fluida, intuitiva e precisa.
🗓 Sábado, 9 de agosto
🕥 10h30 – Aulão de Leitura Linear
Aprenda o que é a leitura linear, como utilizá-la e quais técnicas tornam a leitura mais natural e simbólica.
Você vai conhecer conceitos como:
Linguagem dos pássaros
Teoria dos encontros
Técnicas para uma leitura mais orgânica e menos engessada
Ideal para quem deseja se libertar de métodos excessivamente restritivos.
🕑 14h – Aulão de Tempo da Previsão
À tarde vamos aplicar o que aprendemos na leitura linear para entender como prever o tempo das coisas que vemos nas cartas. Quando casarei? Qual é o melhor mês para fazer meu evento? Com técnicas da escola inglesa e da escola francesa, você saíra desta aula com um conhecimento seguro e robusto.
Vamos aplicar os princípios da leitura linear e integrar técnicas das escolas inglesa e francesa. Você sairá com uma base sólida para responder perguntas de tempo com confiança.
🗓 Domingo, 10 de agosto
🕥 10h30 – Aulão de Objeto Perdido
Um dos temas mais fascinantes: localizar objetos com o tarô.
Não é apenas uma tiragem específica — vamos aprofundar a leitura linear para identificar locais, condições e situações dos objetos desaparecidos, explorando a linguagem simbólica das cartas.
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Aulas ao vivo pelo Zoom.
As aulas serão gravadas e ficarão disponíveis por 6 meses.
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Inscreva-se até 25/07 e aproveite os descontos:
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Após 26/07:
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