O Tarô faz previsões?
Olá. Seja bem-vindo(a/e) à newsletter do Fortuna Arcana. Aqui, numa média (uma média mesmo, nada de cobranças e prazos apertados comigo, rs) de três em três meses, farei algum tipo de reflexão sobre o tarô, ou alguma previsão ou aconselhamento - além de falar um pouco sobre os meus serviços.
Percebo, cada vez mais, diversas propagandas pelas redes sociais dizendo que o melhor uso do tarô não é para previsões. Da mesma maneira, vejo gente dizendo que o tarô prevê um futuro que depende inteiramente da gente (e, confesso, quando eu comecei a ler tarô, no auge da sabedoria adolescente, eu também pensava nisso). Não tenho nada contra quem não faça previsões (só um pouco), mas me incomoda quando alguém fala em nome do tarô, como se fosse alguma espécie de líder de sindicato.
O Tarô não é quem o lê.
Para entendermos essa questão, precisamos deixar clara a distinção entre a ferramenta oracular e quem a lê. A minha percepção é de que as ferramentas oraculares são sistemas linguísticos. São alfabetos. Em um alfabeto, temos todas as letras necessárias para formar toda e qualquer palavra, seja ela presente, passada ou futura. O termo COVID-19 não fazia parte nem de nossas vidas, nem de nossas leituras, até 2020. Hoje todos nós conhecemos essa palavra. O tarô, enquanto alfabeto-oráculo, tem, em suas combinações, todas as possibilidades de significação contidas dentro dele. Foi Roger Callois, no prefácio que escreveu ao livro de Oswald Wirth, quem disse:
“Não se produz e nem se produzirá nada que já não seja reflexo de outra configuração de astros inflexíveis, longínquos e eternos, ou da disposição de alguns símbolos escolhidos e ordenados, pelas faces mudas, dispostos por uma mão cega que, sob a aparência do acaso, é guiada pela Sorte irrefutável. Uma hipótese extravagante, e por ser extravagante, inegável. Ato de fé no improvável por excelência, desafia qualquer argumento: afirma que todo aspecto de uma determinada possibilidade corresponde a um estado preciso que existe no passado, no presente ou no futuro de um outro complexo misteriosamente ligado ao primeiro. Para passar de um sistema a outro, é necessário conhecer, isto é, inventar, as correlações necessárias.”
Logo, entendemos que, dentro do sistema ao qual chamamos de tarô, toda e qualquer possibilidade está presente. Inclusive o futuro, inclusive aqueles assuntos sobre os quais eu não gosto de falar, inclusive argumentos que eu não entendo e vivências que eu nunca presenciei. Não estou falando em termos energéticos não, viu? Estou falando em letras. Se eu digitar, de olhos fechados, e sair o termo asdpojksdp do meu teclado, nada me garante que isso não seja uma previsão do nome de uma cyberdivindade daqui a três mil anos, não é?
A pessoa que lê o oráculo, porém, pode não se sentir confortável com isso. Há quem não goste de dar previsões, mas isso não quer dizer que o tarô não faça previsões. Uma vez, uma cliente me perguntou o que tinha de errado com a água do prédio dela, que tinha um gosto estranho. Num primeiro momento, estranhei a pergunta, mas logo me peguei com a seguinte reflexão: e se eu fosse tarólogo e engenheiro químico ou hídrico? Talvez eu conseguisse enxergar uma bactéria específica na temperança ou excesso de cobre na água com o sete de copas, por que não? Mas eu não sou, então eu não tinha como responder aquilo – mas eu juro que tentei. Da mesma maneira em que jogo tarô sobre objetos perdidos, animais de estimação, questões envolvendo casos delicados e mais. Sempre sabendo dos meus limites, mas entendendo que o tarô, enquanto sistema simbólico, não é limitado. Ele tem, sim, seus conjuntos de regras, que fazem com que a gente consiga diferenciar o simbólico da viagem na maionese – mas ele não é limitado.
Então, sim, o tarô prevê. Há tarólogos que preveem e tarólogos que não. Eu gosto dos que o fazem, pra ser sincero. Eu gosto de pensar que, para sermos cartomantes, precisamos arriscar. É uma profissão que exige risco e frio na barriga. A gente produz aleatoriedades e, a partir dela, vemos as correlações. O mesmo acontece com os dados, com o voo dos pássaros e a direção do vento. A nossa leitura depende de um fator aleatório, não escolhemos qual carta sairá. Isso somente já caracteriza uma previsão: eu não sei qual carta do tarô vai sair, mas eu sei que será uma carta do tarô. O futuro não é tão complicado assim, quando olhamos para a vida humana. Eu sei que ano que vem muitos vão se apaixonar, outros vão se divorciar. Algumas pessoas vão adotar gatos e outras vão sair do país. Somos símbolos que se entrelaçam e se repetem, e cabe a nós somente ver como isso se espelha nas cartas.
BIBLIOGRAFIA: prefácio de Roger Caillois, tradução minha disponível nesse link
Você quer receber uma leitura de graça?
Quem estuda ou já estudou comigo sabe como eu acredito que somente a prática faz cartomantes. Quando eu comecei a trabalhar profissionalmente com o baralho, fiz de tudo. Joguei em bar, evento esotérico, chá de bebê... Não houve situação que eu tenha vivido, e isso é essencial. Passei vergonha e passei ódio, criei amizades e inimizades, tudo isso em nome da minha experiência profissional. Em minhas aulas presenciais em Porto Alegre, atingi um determinado número de conexões que me permitem fazer estágios práticos com meus alunos. Esse tipo de coisa também aconteceu em minhas turmas avançadas, e foi um sucesso absoluto. Apesar de já praticar isso há anos, eu consegui, agora, organizar uma forma de estágio prático nos meus cursos de formação. Na prática, o que acontece é: você terá a chance de receber uma leitura grátis do tarô. Eu vou abrir duas possibilidades: na primeira, você deixa a sua pergunta cadastrada e, quando a turma já tiver o conhecimento mínimo para fazer a leitura, você receberá a sua resposta, anonimamente, por email. Mas eu precisarei que você faça algo por mim, também: o seu feedback. Quando você receber a resposta da sua pergunta, enviarei, junto, um link para que você dê feedback da leitura recebida. A partir dele, irei ter uma conversa com a pessoa que te fez a leitura, de maneira a auxiliar na formação dela enquanto cartomante. A segunda forma de participar é sendo uma espécie de cobaia das minhas turmas. Você vai preencher uma inscrição e, caso eu te chame, vai participar da aula enquanto cliente, dando o feedback ali na hora. Quer participar? Então se liga no link abaixo.
Isso também é uma garantia importante dos meus cursos: estudando comigo, você vai jogar tarô. É importante que criemos não apenas experiência de mesa mas também segurança. Jogar tarô é entender a nossa linguagem, a forma como abordamos as pessoas, que técnicas nos servem ou não. Tendo isso junto de um professor e monitor qualificados é algo que serve justamente para que você tenha um acompanhamento do seu caminho cartomântico. Não é só sobre ensinar cartas, é sobre ensinar a ler cartas.
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Além de estudar com um professor com mais de dez anos de experiência profissional e que já formou mais de 700 alunos (dentre os quais vários já se profissionalizaram), você terá, na prática, o saber necessário para sair da decoreba por trás dos Arcanos.
Além de mim, o curso conta com a monitoria excepcional do Diego Piu, do @cartinhasdopiu
O Diego está comigo presente em todas as aulas, dando auxílio a vocês, pitacos sobre jogos e sobre as cartas - além de ser o cara que vai pensar em exercícios específicos para cada necessidade da turma e corrigir com vocês. Ele também vai tirar as dúvidas que vocês tiverem ao longo do curso através do e-mail exclusivo de alunos.
Bem, por enquanto é isso. Logo mais volto com novidades. Beijão :)
Julio Soares